Obesidade afecta principalmente população pobre e com baixo nível de instrução

Um estudo nacional revela que os homens mais velhos, os mais pobres e com baixos níveis de instrução são os portugueses mais afectados pelo excesso de peso e obesidade.

O estudo publicado na revista científica “Obesity Reviews”, cita o Público, revela que, no espaço de uma década, os portugueses com excesso de peso aumentaram quatro por cento, constatando-se que as acções com vista à redução «do problema de saúde pública não parecem ter sido eficazes».

As causas que levam ao mesmo vão desde o aumento do consumo «de comidas hipercalóricas e o sedentarismo», dentro de outras razões estruturais que explicam a distribuição social do fenómeno.

A médica e um dos autores do estudo constata que a «comida a que os mais pobres têm acesso é mais barata e mais calórica», exemplificando com o facto dos «vegetais, iogurtes e fruta» serem alimentos que custam mais caro» do que comer «pão com margarina».

Às dificuldades económicas junta-se o menor grau de informação para fazer as escolhas de alimentação certas e a falta de recursos para fazer exercício físico, concluindo o mesmo que o excesso de peso/obesidade afecta cerca de 69 por cento da população com baixo nível educacional, face a 41 por cento das pessoas com um nível educativo alto.

O trabalho feito no âmbito da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade declara ainda que não é a obesidade que está a aumentar, tendo em conta que desceu de 14,4 para 14, 2 por cento, mas sim o excesso de peso.

Entre o período de 1995-1998 para o de 2003-2005 nota-se que o grupo de pessoas com peso normal diminuiu de 47 para 44 por cento, passando para a categoria dos que têm excesso de peso, que aumentou cerca de 35 para 39 por cento.

A obesidade aumenta sobretudo no sexo masculino e não nas mulheres, principalmente nos homens casados, cuja tendência para o problema é mais notória, para além de o tipo de gordura que afecta os homens ser a mais prejudicial à saúde, sendo a que se acumula à volta da cintura e liberta substâncias mais nocivas ao organismo.

Nas mulheres a obesidade diminuiu ligeiramente de 15 para 13, 4 por cento, o que os autores da investigação associam «às preocupações crescentes com o corpo na população feminina» e ao mesmo tempo ser uma gordura acumulada nas ancas, rabo e coxa, o que, segundo a médica, «não é a mais prejudicial à saúde».

Dos vários factores que podem estar associados ao excesso de peso/obesidade, a idade é o mais importantes, o que explica o aumento do fenómeno tendo em conta o envelhecimento populacional em Portugal.

O avanço da idade provoca a desaceleração do metabolismo e a diminuição da actividade física, constatando-se que é na faixa etária dos 60 aos 64 anos que há mais excesso de peso.

No entanto, as perspectivas não são animadoras para as camadas mais jovens, recordando um estudo anterior que veio revelar que 31 por cento das crianças entre os sete e os nove anos têm excesso de peso/obesidade, um valor acima da faixa etária dos 18 e 20 anos, cerca de 21 por cento, o que «sugere que a nova geração de portugueses vai sofrer com o agravamento deste problema de saúde», lê-se no mesmo.

O presidente da Associação de Doentes Obesos e ex-obesos de Portugal (Adexo), Carlos Oliveira, aponta a falha do combate à obesidade ao facto de se estar «a trabalhar só por um lado», e explica que o Estado comparticipa «tudo o que tem a ver com cirurgia» o que está a evoluir, no entanto, não concorda que para os doentes sem indicação para cirurgia «continuem sem comparticipação os dois único medicamentos para a obesidade, que é uma doença crónica».

O responsável afirma que esses medicamentos representam uma despesa mensal «entre 70 e 100 euros», mas que a tarefa de perder peso custa muito mais, apontando um valor global de 250 a 300 euros por mês, tendo em conta todas as despesas que obrigam as alterações de hábitos alimentares e «outros gastos que a pessoa vai ter durante o período de perda de peso».

O valor indicado por Carlos Oliveira inclui a eventual medicação para ajudar o doente a manter-se «globalmente compensado» num fase que pode ser particularmente exigente e sensível a alterações nos «nervos e ansiedade», salientando que o obeso «tem de ser tratado num processo multidisciplinar».

As consultas multidisciplinares são as mais procuradas nos serviços públicos de tratamento da obesidade, sobre as quais liga uma boa parte das pessoas para a linha de atendimento público da Adexo.

O presidente da associação fala ainda das situações dramáticas de pessoas que falam de suicídio, às quais tentam dar apoio psicológico imediato e outras que procuram saber novidades do hospital onde vão ser operadas.

A linha da Adexo é requisitada por homens e mulheres sem distinção, lembrando o mesmo que «quando se precisa de ajuda» não se tem tantas inibições e por vezes é mais fácil telefonar do que falar pessoalmente, até porque o doente superobeso «naturalmente esconde-se».

A associação recebe também telefonemas por razões estéticas, constatando-se por vezes que algumas pessoas têm «o problema do pneuzinho», o que para Carlos Oliveira esta é uma distinção preciosa entre o alerta para o «excesso de peso»e a obesidade ser «uma doença».

Fonte: Público e Confragi

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